28 de dezembro de 2008

Livro: Análise da Inteligência de Cristo: O Mestre da Sensibilidade


Autor: Augusto Cury



Editora: Academia de Inteligência



Ano: 2000



Páginas: 215



Este livro é o segundo volume de uma série com cinco livros onde Augusto Cury faz uma análise psicológica da personalidade, inteligência e comportamento do filho do Altíssimo, nosso Senhor Jesus Cristo.

O livro é simplesmente fantástico, o primeiro volume eu li já faz algum tempo, mas não tinha encontrado os outros volumes, agora que encontrei irei postá-los aqui logo após lê-los.

Indico a todos, excepcionalmente todos, a leitura desse livro. É perfeito....Segue abaixo algumas partes que eu considerei mais do que perfeitas, portanto dignas de serem destacadas.


Se quisermos observar a inteligência e maturidade de alguém, não devemos analisá-la nas primaveras de sua vida, mas no momento em que atravessa os invernos de sua existência.


Nos terrenos sinuosos da existência é que a lucidez e a maturidade emocional são testadas.
O mestre da escola da vida sabia das limitações humanas, sabia que nos é difícil gerenciar nossas reações nas situações estressantes. Tinha consciência de que facilmente erramos e de que facilmente punimos a nós mesmos ou aos outros. Entretanto, queria de todo modo aliviar o sentimento de culpa que esmagava a emoção e criar um clima tranqüilo e solidário entre os seus discípulos.


Na escola da vida não há graduação. Nessa escola, o melhor aluno não é aquele que tem consciência do quanto sabe, mas do quanto não sabe. Não é aquele que proclama a sua
perfeição, mas o que reconhece suas limitações. Não é aquele que proclama a sua força, mas o que educa a sua sensibilidade.


É fácil expressar serenidade quando nossas vidas transcorrem num jardim, difícil é quando nos
defrontamos com as dores da vida.


Ao que tudo indica, o homem do século XXI será menos criativo do que o do século XX. Há um
clima no ar que denuncia que os homens do futuro serão repetidores de informações, e não pensadores.
A culpa não está nos professores, pois estes possuem um trabalho estressante e, apesar de nem sempre terem salários dignos, ensinam freqüentemente como poetas da inteligência. A culpa está no sistema educacional que se arrasta por séculos, que possui teorias que compreendem pouco tanto o funcionamento multifocal da mente humana como o processo de construção dos pensamentos*. Por isso, enfileira os alunos nas salas de aula e os transforma em espectadores passivos do conhecimento, e não em agentes modificadores da sua história pessoal e social.


Do ponto de vista psiquiátrico, o mestre estava coberto de razão, pois se transformamos as pessoas que sofrem em pobres miseráveis, em vítimas da vida, nós matamos a sua capacidade de criar e de transcender as suas dores. Transformar um paciente numa pobre vítima de sua depressão é um dos maiores riscos da psiquiatria. O homem que enfrenta com inteligência e crítica a sua depressão tem muito mais chances de superá-la. Aqueles que têm medo da dor, não apenas têm mais dificuldade de superá-la, mas mais chances de ficar dependentes do seu terapeuta.


O homem moderno, principalmente o jovem, não sabe lidar com suas limitações, não sabe o que fazer com suas dores e frustrações. Muitos querem que o mundo gravite em torno de si mesmos. Eles têm grande dificuldade de enxergar algo além das suas próprias necessidades. Neste ambiente, a alienação social, a busca do prazer imediato, a agressividade e a dificuldade de se colocar no lugar do outro se cultivam amplamente.


Aliás, o maior favor que alguém pode fazer a uma semente é sepultá-la. Jesus foi uma fagulha que nasceu entre os animais, cresceu numa região desprezada, foi silenciado pela cruz, mas incendiou a história humana.

"Aprendemos cada vez mais a conhecer o pequeníssimo átomo e o imenso espaço, mas não aprendemos a conhecer a nós mesmos, a ser caminhantes nas trajetórias do nosso próprio ser".


Esse mestre era perspicaz. Nenhuma exigência é tão grande e tão singela como a de amar. Em suas biografias, pode se compreender que, ao contrário do governo humano que primeiramente cobra os impostos e depois os retorna em benefícios sociais, o "reino de Deus" não cobra nada inicialmente. Ele primeiramente supre uma série de coisas ao homem: dá o espetáculo da vida, o ar para se respirar, a terra para se arar, a mente para pensar e um mundo belo para se emocionar. Após dar gratuitamente todas essas coisas durante a curta existência humana, ele cobrará o retorno.
Para alguém que deu tanto, era de se esperar uma cobrança enorme, tal como a servidão completa dos homens. Mas para o nosso espanto, Cristo discursou que a maior cobrança do Criador será a mais sublime emoção, o amor. Para ele, aquilo que os poetas viram em suas miragens, o amor, deveria permear a história de cada ser humano.


A rigidez é o câncer da alma. Ela não apenas fere os outros, mas pode se tornar a mais drástica ferramenta autodestrutiva do homem. Até pessoas interiormente belas podem se autoferir muito, seforem rígidas e estreitas na maneira de pensar seus transtornos psíquicos. Em psicoterapia, uma das metas mais difíceis de ser alcançada é romper a rigidez intelectual dos pacientes, principalmente se já passaram por tratamentos frustrantes, e conduzi-los a abrir as janelas de suas mentes e renovar as suas esperanças.
As pessoas que acham que seu problema não tem solução criam uma barreira intransponível dentro de si mesmas. Assim, até doenças tratáveis, como a depressão, o transtorno obsessivo e a síndrome do pânico, se tornam resistentes.
Não importa o tamanho do nosso problema, mas a maneira como o vemos e o enfrentamos.
Precisamos desengessar nossas inteligências e enxergar as pessoas, os conflitos sociais e as dificuldades da vida sem medo, de maneira aberta e multifocal.
Nós provocamos as pessoas rígidas e as tornamos mais agressivas ainda. Ele, ao contrário, com brandura instigava a inteligência delas e acalmava as águas da emoção.


Precisamos aprender a proteger nossas emoções quando ofendidos, agredidos, pressionados,
coagidos e rejeitados, caso contrário, a emoção sempre abortará a razão. A conseqüência imediata dessa falta de defesa emocional é reagirmos irracional e unifocalmente, e não multifocalmente.


Precisamos abrir o leque de nossas mentes e pensar em diversas alternativas diante dos desafios da vida. O mestre, antes de dar qualquer resposta, honrava sua capacidade de pensar e pensava com liberdade e consciência, depois desferia suas brilhantes idéias. Somente alguém que é livre por dentro não é escravo das respostas.


Quem gravita em torno dos problemas e não aprende a fazer um "stop introspectivo", ou seja, parar e pensar antes de reagir, faz das pequenas barreiras obstáculos intransponíveis, das pequenas dificuldades problemas insolúveis, das pequenas decepções um mar de sofrimento. Infelizmente, por não exercitar a arte de pensar, tendemos a transformar uma barata num dinossauro.


O mestre de Nazaré, por meio de sua intrigante e silenciosa atitude, vacinou seus discípulos contra o individualismo. Inaugurou uma nova forma de viver e de se relacionar. Introduziu no cerne deles a necessidade de tolerância, de busca de ajuda mútua, de aprender a se doar.
Embora a temporalidade da vida seja breve, ela é suficientemente longa para se errar muito. Temos atitudes individualistas, egocêntricas, simulatórias, agressivas. Julgamos sem tolerância as pessoas que mais amamos. Rejeitamos as pessoas que nos contrariam. Prometemos a nós mesmos que iremos, de agora em diante, pensar antes de reagir, mas o tempo passa e, freqüentemente, continuamos vítimas de nossa impulsividade. Temos enormes dificuldades de enxergar o mundo com os olhos dos outros.


Queremos que primeiramente o mundo gravite em torno de nossas necessidades para depois pensarmos nas necessidades daqueles que nos circundam. Somos rápidos para reclamar e lentos para agradecer.


Produzimos um universo de pensamentos absurdos que conspiram contra a nossa própria qualidade de vida e não temos disposição e, às vezes, nem habilidade para reciclá-los.
Todos falhamos continuamente em nossa história de vida. Só não consegue admitir sua fragilidade quem é incapaz de olhar para dentro de si mesmo ou quem possui uma vida sem qualquer princípio ético. Por detrás das pessoas mais moralistas, que vivem apontando o dedo para os outros, existe, no palco de suas mentes, um mundo de idéias nada puritanas.


Somente o amor pode cumprir espontânea e prazerosamente todos os preceitos. Somente ele dá sentido à vida e faz com que ela, mesmo com todos os seus percalços, seja uma aventura tão bela que rompe a rotina e renova as forças a cada manhã. O amor transforma miseráveis em homens felizes; a ausência do amor transforma ricos em miseráveis.


Somente os fortes conseguem admitir suas fragilidades. Aqueles que são fortes por fora são de fato frágeis, pois se escondem atrás de suas defesas, de seus gestos agressivos, de sua auto-suficiência, de sua incapacidade de reconhecer erros e dificuldades.


Precisamos aprender a penetrar no mundo das pessoas. A arte de ouvir deveria fazer parte de nossa rotina de vida. Todavia, pouco a desenvolvemos. Somos ótimos para julgar e apontar o dedo para a falha dos outros, mas péssimos para ouvi-los e acolhê-los. Para desenvolver a arte de ouvir é preciso ter sensibilidade, é preciso ouvir aquilo que as palavras não dizem, é preciso escutar o silêncio..


Muitos de nós somos intolerantes quando as pessoas nos frustram. Não toleramos seus erros, não aceitamos suas dificuldades nem a lentidão em aprender determinadas lições. Esgotamos nossa paciência quando os comportamentos delas não correspondem às nossas expectativas. O mestre era diferente, nunca desanimava dos seus amados discípulos, nunca perdia a esperança neles, ainda que o decepcionassem intensamente. Com o mestre da escola da vida, aprendemos que a maturidade de uma pessoa não é medida pela cultura e eloqüência que possui, mas pela esperança e paciência que transborda, pela capacidade de estimular as pessoas a usarem os seus erros como tijolos da sabedoria.


Não é a quantidade dos estímulos estressantes que nos faz sofrer, mas a qualidade deles. A dor da traição é indescritível.


Nada preserva mais a emoção do que diminuir a expectativa que temos das pessoas que nos circundam. Toda vez que esperamos demais delas temos grandes possibilidades de cair nas raias da decepção.


Somos iguais ao mestre? Quando estamos ansiosos, qualquer problema vira um monstro. Ficamos instáveis e irritáveis. Nossa gentileza se esfacela, nossa lucidez se evapora, motivo pelo qual agredimos facilmente as pessoas que nos circundam. Alguns, infelizmente, fazem dos seus íntimos um depósito da sua ansiedade. Descarregam neles seu lixo emocional. Praticam uma violência não prevista nos códigos penais, mas que lesa o cerne da alma, o direito personalíssimo ao prazer de viver.


A personalidade precisa de transformação, e não de milagres. Expandir a arte de pensar, aprender a filtrar os estímulos estressantes, investir em sabedoria nos invernos da vida são funções nobilíssimas da personalidade que não se conquistam facilmente, nem em pouco tempo.


Nós fazemos o "velório antes do tempo", sofremos por antecipação. Os problemas ainda não
aconteceram e talvez nunca venham a acontecer, mas destruímos nossa emoção por vivê-los antes do tempo. O mestre de Nazaré só sofria quando os acontecimentos batiam-lhe à porta. Somente possuindo uma emoção tão livre como aquela, ele poderia, a menos de 24 horas de sua tortura na cruz, ter disposição para jantar e cantar com seus discípulos e suplicar a Deus para que eles tivessem um prazer completo.


Tudo o que pensamos e sentimos é registrado automática e involuntariamente pelo fenômeno RAM.
Este fenômeno tem mais afinidade com as experiências que têm mais "volume" emocional, ou seja, registra-as de maneira mais privilegiada. Por isso, "recordamos" com mais facilidade as experiências que nos deram mais tristezas ou alegrias.
Cuidamos da higiene bucal, do barulho do carro, do vazamento de água, mas não cuidamos da
qualidade de pensamentos e emoções que transitam em nossas mentes. Estes, uma vez arquivados, nunca mais podem ser deletados, somente reescritos. Por isso, o tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico não é cirúrgico, mas um lento processo. Logo, também é difícil, mas não impossível, mudar as características de nossas personalidades.
É mais fácil, como Cristo fazia, proteger a emoção ou reciclá-la rapidamente quando a sentimos do que reescrevê-la depois de registrada nos arquivos inconscientes da memória. Ele gozava de uma saúde emocional impressionante, pois superava continuamente as ofensas, as dificuldades e as frustrações que vivia. Portanto, o fenômeno RAM não registrava experiências negativas em sua memória, pois simplesmente ele não as produzia em sua mente.
Cristo não fazia de sua memória um depósito de lixo, pois não conseguia guardar mágoa de
ninguém. Podia ser ofendido e injuriado, mas as ofensas não invadiam o território da sua emoção. A psicologia do perdão que ele amplamente divulgava não apenas aliviava as pessoas perdoadas, mas as transformava em pessoas livres e tranqüilas.


Para nós que pesquisamos a inteligência e o funcionamento da mente não existe a fama. Ela é um artifício social. Ninguém está acima dos outros ou é mais importante do que eles. É interessante notar que o mestre de Nazaré pensava exatamente desse modo. Tanto as pessoas famosas como aquelas que estão no anonimato possuem o status de ser humano. Portanto, são dignas do mesmo respeito, pois possuem os mesmos fenômenos inconscientes que lêem a memória e constroem as cadeias de pensamentos, a consciência e a totalidade da inteligência.
Dentro do homem deve estar a sua felicidade, e não dentro do que os outros pensam e falam dele.
Os mais eloqüentes filósofos, pensadores e cientistas, se tivessem estudado a personalidade de
Cristo, teriam compreendido que ele atingiu não apenas o ápice da inteligência, mas também o apogeu da saúde emocional e intelectual.


Os homens gostam de ser deuses, mas aquele que se colocava como filho de Deus gostava de ser homem.


O tempo de lidar com os problemas futuros deveria ser apenas o período suficiente para nos dar condições para nos equiparmos e superá-los. Sofrer por um câncer que não existe, por uma crise financeira que não se sabe se ocorrerá, uma dificuldade ainda distante, é se autoflagelar inutilmente.
Infelizmente, uma das características mais universais do homo sapiens, dessa espécie inigualável da qual fazemos parte, é sofrer por antecipação. A construção de pensamentos, que deveria gerar um oásis de prazer, produz muitas vezes um espetáculo de terror, o que nos expõe com freqüência a transtornos psíquicos. Não poucas pessoas cultas e aparentemente saudáveis sofrem secretamente dentro de si mesmas.
Não deveríamos ficar pensando dias, semanas ou meses antes dos fatos acontecerem, a não ser se tivéssemos a capacidade de não envolver a emoção com as cadeias de pensamentos, pois é ela a grande vilã que rouba energia cerebral. A atividade do pensamento, quando está envolvida com tensão, apreensão e angústia, gasta duas, três ou dez vezes mais energia do que se estivesse desvinculada dela.
Se pudéssemos usar nossa capacidade reflexiva sem empregar a ansiedade, então poderíamos ficar pensando nos fatos muito tempo antes de eles ocorrerem. Mas eu não conheço quem tenha tal habilidade. Os vínculos da emoção com os pensamentos acompanham toda a história de formação da personalidade.
Uma análise psicológica estrita da personalidade de Cristo indica que ele teve tal habilidade.

Só envolveu a emoção tensa na sua produção de pensamentos horas antes de morrer


Somente os fortes poupam o sangue e são capazes de usar os pequenos orvalhos do diálogo, da afetividade e da tolerância para arar e irrigar o solo árido dos obstáculos que estão à sua frente.


"Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a Tua vontade".
Essas palavras indicam que ele se convenceu de que não era possível ficar sem beber o cálice.
Essa mudança de discurso revela que ele tinha um Pai que não era fruto de sua imaginação, de uma alucinação psicótica. Uma alucinação e um delírio psicótico são produzidos quando uma pessoa perde os parâmetros da realidade e começa a construir, sem consciência crítica, uma série de pensamentos fantasiosos que ela considera que são reais. Quando produzem imagens ou pensamentos ligados a seres ou pessoas, ela crê contundentemente que eles não foram produzidos por si mesma, mas pertencem a outro ser real que está fora dela. Assim, ouve-se voz inexistente, vêem-se imagens irreais e têm-se sensações estranhas e idéias infundadas. Por isso, se fizermos um diálogo um pouco mais investigativo com uma pessoa que está em surto psicótico, perceberemos facilmente a incoerência intelectual, a dificuldade consistente no gerenciamento dos pensamentos e a perda dos parâmetros da realidade.
Cristo não alucinava ou delirava quando dialogava com o seu Pai. Pelo contrário, além de ser
coerente e lúcido, desenvolveu, como tenho dito, as funções da inteligência em patamares jamais sonhados pela psiquiatria e pela psicologia.

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